segunda-feira, fevereiro 16, 2009

tato

Nesses dias todos meu corpo esteve só. As relações eram feitas de palavras. E, ainda mais, o frio intenso, me deu a sensibilidade necessária para compreender, hoje, o quanto o toque, a lambida, um gesto ou um ato que encosta, é fundamental na formação de qualquer bicho.

Sinto-me só. Sinto-me só sem a espontaneidade de um toque em minha pele. Seja ele o aperto de mão, seja o toque que for. Mas não toco em nada. Aqui há o frio, as luvas. No mercado há agora um recipiente onde o caixa deposita o troco. Nem ali, nessa banalidade mais absoluta da vida moderna feita de uma troca comercial mediada pelo 'troco' em um caixa de supermercado, nem ali há possibilidade de toque.

E ainda há as luvas, os gorros e o frio. Apesar disso, as pessoas aqui não aprenderam o abraço. Nem sonhar aquele abraço demorado e balançado. Aqui há a densidade do frio e da politesse.

Je m'en fou mas em todo caso a vida continua e eu devo, pelo menos, botar o pau na mesa. Agora, sem abraço, sem calor, sem carinho, não tenho nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nadanada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada nada a perder. Minhas palavras tornaram-se selvagens, incivilizadas, apesar de minha natural elegância.

Desencanto a cada dia que passa.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Me enche os olhos d,água novamente. Belíssimo!

9:32 PM  

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