Espírito científico da alma
Há dias em que nos permitimos a assunção de nossa ignorância sem, com isso, onerarmos qualquer parte de nossa alma. Pelo contrário. Assumirmo-nos ignorantes é o primeiro passo para a nossa integridade. "Não saber de si é viver. Saber mal de si é pensar. Saber de si é ter consciência dessa mônada íntima que é a alma" - Fernando Pessoa.
O poeta português em quase nada se distancia do saber de si propalado por um Bhaktivedanta Prabhupãda a respeito de uma Física do Eu, texto que comprei há alguns milhares de dias num ônibus municipal e que somente hoje, nesse domingo em que tiro aí uns treze anos depois, resolvi encarar. Feliz "acaso", justamente na sequência dos dias em que tenho afirmado uma certa conclusão à que cheguei: a de que somos um imenso rizoma.
A consciência que tenho de mim hoje é a certeza disso.
Apenas não sei que sentido fazemos um para o outro. Falo d'eu e você (que tem olhos e lê) e do teor fantástico desse nosso encontro. Falo no âmbito estritamente íntimo, pois a vida, para mim, se restringe radicalmente à intimidade. O resto é polidez.
Sim, não ando contente. Resisto em acreditar que sou uma alma triste, mas fato é que me entristeci com as cabeçadas que andei dando desdo o tempo em que gastava certezas à respeito de minha fortaleza. Me faltava a clareza das distinções: minha coragem (cega), meu elemento fogo tão reconhecido pelos amigos de fé e que sempre teve o mérito de me levar à algum lugar, era também os muros altos de uma fragilidade emocional, de um não saber viver aqui nesse mundo, limitada nesse corpo cravejado de palavras proferidas pelos corpos circundantes - mas nem tão passivo assim. Ele, o corpo, aqui nesse lugar, me restringe e me possibilita uma determinada existência. Minha consciência disso é a chave para a porta de saída!
Ser humano. Eu não tenho dúvidas a meu respeito. Ao mesmo tempo não me duvido e sofro por não acreditar naquele ser que esperam de mim. Não devia, entretanto, sofrer, pois este seria um ser subtraído de cada nuance de sua subjetividade sádica, violenta, calorosa, ardente, gentil, generosa, afável, musical, transcendente, lacônica, ignorante...ignorantes: isso é mais o que podemos ser para além desta sublime consciência. Falo de reconhecimento humano !
Só os burros não ignoram.
7 Comments:
o outro sempre traz uma sensação acataléptica e a dialética é ilusória pois tudo é o acaso
tens razão, anonymous. Mas nem sempre a acatalepsia é o fator predominante. Há também uma burundanga escusada que insiste na estroinice dialética que, para mim, não passa de coisa de foboca.
ipsis, veemente a sua peremptória, mas a acatalepsia é a química, o resto é pano de fundo.
e te digo mais, os bororós não podem ser confundidos com os catingueiros, seria realmente uma burundanga danada.
vamos andar na praia ou não
Olá,
primira visita aqui. Gosto de ler os penasmentos do Ipaco(que não conheço), que indicou seu blogue. Cá estou. Gostei e voltarei.
acatalepsia no sentido concreto de porbabilidade ou no sentido de uma doutrina pode até ser difícil e até impossível de entender, mas no sentido da incerteza e também, porque não, da ignorância, faz a minha peremptória ser mais veemente para a sua (não que a sua)? Theravadas e mahayanas diferem em várias coisas, como a vida monástica. Para os primeiros ela é um dos requisitos principais para a porta de saída e para os segundos não. Numa coisa eles não diferem, a importância do corpo e a consciência do corpo. Também ando pensando nisso e as conclusões que chego assemelham-se as suas: o corpo é a chave para a porta de saída! Veemente a sua peremptória!
Não tenho sequer um estipêndio para responder tamanha opiniaticidade. Poderias contribuir com um punhado de aclaração, um generoso escólio?
Só me permito a garatuja, por esposar minha sujeição ao apedeutismo palavratório. Gosto mesmo é de patuscada.
Nada consta.
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