Etnografia de um Natal
Ontem no morro a ocasião se manifestou em tiros e fogos de artifício. As explosões foram ostensivas e pareciam inaugurar a suspensão de um momento banal para a entrada na passarela do desfile de um poder, cuja libido se sente pela potência do cano. Ho Ho Ho.
Finda a euforia da libido opressora; impera o silêncio. Posso agora perceber como cindi esse contrato: ouço Baden Powell e escrevo a luz de velas. Eis meu ambiente natalino.
No dia seguinte, involuntariamente, outros universos desenhados pelo espírito do consumo, quer dizer, pelo espírito do Natal, cruzam o meu caminho. Bastou eu colocar meu pé na rua e expor no mundo os meus cinco sentidos, todos com os canais bem abertos. Enquanto uns viviam momentos de trégua, outros aproveitavam a ocasião para dar realce às animosidades mais ou menos disfarçadas durante o ano inteiro. Do andar de cima desceu até os meus ouvidos uma conversa telefônica onde se tratava da provocação de uma sogra e uma cunhada endereçada àquela nora cujo destilado telefônico ganhava mundo a partir da minha audiência.
O velho e bom espírito do Natal abrindo suas asas – depenadas – sobre algumas composições familiares. Dizem que cunhado não é parente, e eu credito a essa máxima o empenho da cunhada que me é de direito em tentar ser mais agradável ainda nesses períodos de festas. Embrulhos são fundamentais. Por isso ela trouxe para todos, sem exceção, junto com uma série de sorrisos pré-formados e impreteríveis.
Ah....o Natal!
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