O ilusionista
Preso à vida da rua Santo Amaro, Amaro da Silva escondia de si e do mundo o seu estranho modo de pensar a vida. Beijava muito, falava pouco. E quando falava hasteava o indicador e as duas sobrancelhas, como se zombasse sempre de uma possível solenidade que pudesse advir do extravazamento do seu brilhantismo oculto, embora ainda que suposto. Mantinha-se oculto e preso ao balcão do velho e imundo bar da rua Santo Amaro.
Amaro da Silva só não sabia que depois de um certo dia a vida não mais passaria ali por aquele bar. Amaro perdia a cada dia a noção de que lá já se ia, dia a dia, a vida a qual cuja espera o havia determinado, todos os dias, àquele mesmo fétido balcão de bar. Amaro era agora um homem sem fim nem começo. Um homem descarrilhado, sem fé nem apreço. Amaro, enfim, era um homem do cacete.
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