O desejo - da mala e da bagagem
A vertigem do tempo me tomou neste exato momento. Vi que num espaço de dias entrava por aquela porta com duas malas contendo aquilo que do outro lado do oceano eu acreditava ser imprescindível neste espaço de tempo e lugar onde me encontro, agora, em pleno curso.
Uso um vestido comprado numa praça em Niterói. Estou sentada na minha escrivaninha, abajour aceso, livro diante dos olhos e pensamento envolto em suposições fenomenológicas e críticas ao que se chama realismo. Estou gostando, estou gostando demais. Eu adoro isso. E, ainda não sei bem porque, me dei conta das coisas que trouxe. Talvez eu pudesse ter trazido outras, pois sinto falta agora de algum crochê. Um creme para a limpeza do rosto por vezes ronda o meu desejo. Não o tenho aqui. Vejo através da vontade momentânea de ter um creme para o rosto que os desejos se apegam ao que não nos está disponível.
Desejo um homem e agora imediatamente já penso se realmente o desejo. Esse homem é um artigo definido e eu fixei nele o meu desejo. Entretanto, me ver tomada pelo instante em que entrei com as malas por aquela porta objetivou uma reflexão a respeito dos meus desejos e dos objetos dos meus desejos. O que trouxe na mala e me era imprescindível até passar por aquela porta já não me é mais tão relevante e insubstituível. Traria outras coisas agora, mas pretendo manter essas comigo não mais por desejo ardente, mas por questões afetivas. Eu gosto delas, mas também desejo outras, sem, no entanto, me encontrar disposta a muito esforço. Nada, portanto, que me suscite uma desestrutura. Não. Essas coisinhas tolas que me eram imprescindíveis continuam me agradando, e ao olhar para elas me vejo como fui ontem e antes, antes, antes, antes...antes.........antes........................... essas coisinhas bobas que desejo não serem maltratadas me ajudam a ver o que quero daqui pra frente.
Quanto ao homem, já o considero uma eterna coisinha boba, e o que eu de fato desejo agora é que tudo corra bem para todas as coisinhas bobas do mundo!
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