sexta-feira, novembro 02, 2007

O amante

E eis que então o amante dilacerado se pergunta: o que é o amor?

Dá nome a que? À vontade de fazer ver? Quem ama cuida. Será que amei mal? Será que amo? Será que amei? Será que é tudo só desejo? O que quer dizer ‘ser amado’? É ser compreendido? É ser aceito? Senhores, o amor não pode ser algo pelo qual se espera. Amor está. Talvez, por vezes, ele seja incomodado pela paixão, forma mais sensual do amor. O que não deixa, como vemos, de também ser amor.

Há que se ter muita atenção – isso sempre! – para que na turbulência da paixão algo que se faça sentir pela ilusão de uma perda – “perda” é a frustração de um desejo – não transforme o ser amante em um ser culpado, machucado, maculado, julgado, flagelado, com sentimentos de indignidade etc. Se alguém que participe do processo com este ser combalido por alguma razão se valer disso para ludibriá-lo ainda mais, fazendo-o crer nessas condições ilusórias – pois, ao final, tudo é feito por amor, pois o amor move tudo – esse alguém estará dando provas de que não se distingue do que ludibria.

Escárnio. Essa é a manifestação de uma alma pequena. O escárnio que se vale da bebida, então, é ainda mais baixo. Conteúdos como esse devem ser banidos das nossas lembranças, pois quem testemunhou um escanicador no ato e viu, já sabe. Aquele que acolhe, muitas vezes com fervor, pessoas com esse caráter, deve estar precisando de ajuda.

A ajuda, já pude aprender, é sempre efetiva quando não mudamos o nosso modo de agir e ser. Ajuda quem pode, e quem pode já ajuda apenas sendo quem é. Diria, em outros tempos, que é necessário ter coragem e muita firmeza para não se deixar abalar pelas línguas de fogo, sempre prontas para lamberem a carne viva do ser amante. Hoje, digo que não. É preciso nada mais do que o amor, pois o amor ilumina, a cegueira se vai. Quem vê, vê quem não vê.

O ensaio sobre a cegueira. O amor não é cego, pelo contrário. Cego é quem nunca amou. O amor é lúcido e compreende. Isto não quer dizer deixar o amante ao deus dará, exposto à provas sem o menor amparo. O amante deve cuidar de si, mais do que esperar que o faça o ser amado, pois quem ama é sempre aquele que vê mais. E o ser amado não é capaz de ver o quanto o amante está exposto.

Sexta-feira
02 novembro 2007