sábado, novembro 19, 2005

Da lógica dos sonhos

Vamos então imitar a vida e começar pelo sonho:
Uma mulher desesperada, insana - fora de si! - estava à minha cata. Detrás da cortina eu a via na rua. Eu morria de medo, e detrás da cortina eu via a mulher nua na rua gritando - gritava muito –, me procurando, virando a cabeça, procurando. E chorava, soluçando. Eu morria de medo. Eu morria de medo da loucura. Sei lá qual era o sentimento que a movia contra mim.
(..."talvez apenas para mim"...)
Eu morria de medo.

No banho, horas depois: há diferença entre contra e para. Uma preposição é uma pré-posição. C'est-à-dire: faz toda a diferença.

Resumo da história:
a mulher louca me procurava – problema dela.
Moral da ópera:
só representa perigoso aquilo que tememos – problema meu!

domingo, novembro 06, 2005

segundo GH

Sofrer elegantemente é desastroso. Perder o medo do feio é ganhar mundo e, cá entre nós: tem muito de estética na moral, não? Pro cacete la douleur en français! Eu quero é o meu português e o meu repatriamento, com ou sem! Caso contrário, não caso! Até que me provem o contrário... amputo tudo, só me deixem o coração e a boca, pra dar uns tragos...

terça-feira, novembro 01, 2005

rito

No metrô iam: a flor, a mãe, o pai e a filha. A flor estava machucada, e ia pretensiosamente como um presente da mãe da filha para a mãe do moço. “Um presente machucado – pensou a filha – não é coisa que se dê”. Sendo assim, a flor machucada passou a ser dela, e a mãe do moço ganhou um vaso de ciclâmen ornado ainda por uma borboleta de pano. A flor machucada não sentia a dor da moça. A flor machucada, abstraída do sentimento que a moça portava, alegrou o seu dia. Ao passo que o ciclâmen e todos os outros dessa história permaneceram nos seus lugares como formigas, alheios à dor que cumpliciou a moça e a flor.